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Parques Nacionais e sua (necessária) revolução

Atualizado: 29 de abr.

Todo mundo quer uma solução pronta. Todos querem um modelo único que der certo. Rápido, indolor e replicável. O problema é que somos e moramos em um planeta envolto em dinamismo e diversidade. O simples funciona, mas o simplório ou engessado, não.



Foto: Carolina Scultori | Parque Nacional Aparados da Serra, RS - BR

Quando falamos em governança e gestão de Áreas Protegidas, por exemplo, existem muitos que implementam soluções simplórias ou engessadas enquanto trabalham com uma paisagem desafiadoramente viva.


Em 2021, fui Chefe do Parque Nacional Aparados da Serra e Serra Geral.

Chegando lá, percebi o quanto a lógica das áreas protegidas se encontra adoecida.


Para começar, os modelos de categorização das Unidades de Conservação não se encaixam na realidade. A maioria dos Parques Nacionais tem populações tradicionais que estavam ali antes daquela linha ser criada. Muitas criações seguem o formato top-down e parques são geridos por pensamentos com pouca abertura a novos paradigmas. Nesse contexto, se você for a favor de um Parque Nacional onde a sustentabilidade do território é visto como uma convergência do uso da terra harmonioso entre pessoas e a biodiversidade, você está contra a conservação e a favor da destruição.


Destruição a quê, para quê e de quem? Eu pergunto.


Cansei de ver ideias que criam polarizações afetarem as verdadeiras soluções que precisam ser criadas. Quantas vezes essas ideias embaçaram a vista de tantos e foram criadoras de problemas que poderiam nem existir? Será que conseguiríamos contar?

O Parque Nacional de Yellowstone, criado em 1872 nos Estados Unidos, foi o primeiro Parque Nacional do mundo. O que poderia ser um bom exemplo, carrega junto as suas paisagens grandiosas um histórico de massacre dos povos que lá existiam. Minimamente, isso deveria nos fazer repensar os modelos criados posteriormente. Infelizmente, o Brasil repete a ideia de que os Parques Nacionais devem proteger a biodiversidade, esquecendo de que os seres humanos fazem parte da natureza e que devemos buscar proteger a sociobiodiversidade. Felizmente, temos bons exemplos nesse aspecto, em alguns países como o Peru existem povos que habitam essas áreas.


Alguns defendem que a denominação dessas áreas em alguns países deveria mudar para entrar na caixinha certa do sistema, eu defendo que o sistema que deve revolucionar e se tornar realidade - buscando o equilíbrio nas facetas da sustentabilidade.


Aqui no Brasil, honro a criação do SNUC (Lei 9.985/2000) mas ela foi feita a partir de dicotomia entre preservacionistas e conservacionistas. Cabo de guerra que existe até hoje em muitos espaços quando falamos em áreas protegidas. Agora, com nossa maturidade após 24 anos de teste, é necessário repensar o sistema encarando os erros e acertos a partir de várias perspectivas.


Quem sabe essa revolução possa ter início ainda hoje?


Não temos que adequar a realidade às caixinhas, temos que adequar as caixinhas à realidade.


O método perfeito é aquele que se adequa a realidade existente e trabalha na construção de soluções de fato sustentáveis para cada contexto. Por fim, cito Ailton Krenak:

"Fomos, durante muito tempo, embalados com a história de que somos a humanidade. Enquanto isso - enquanto seu lobo não vem - fomos nos alienando desse organismo de que somos parte, a Terra, e passamos a pensar que ele é uma coisa e nós, outra: a Terra e a humanidade."

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